11/07/2015
CÓDIGO DE DIREITO NATURAL ESPÍRITA
JOSÉ FLEURÍ QUEROZ
Teorias de Sócrates, Platão e Aristóteles Sobre a Moral
SÓCRATES E PLATÃO: “PRECURSORES DO CRISTIANISMO E DO ESPIRITISMO”
Sócrates sentiu-se encorajado pelos sofistas mas não se mostrou inclinado a acompanhá-los em todas as teorias. Achava-se também bastante interessado pelos problemas relativos à vida moral. Grande parte de seus ensinamentos, portanto, versou sobre a significação do bem e do mal.
Tinha convicção firme de que deve haver um princípio básico do bem e do mal, uma medida que se sobreponha às crenças de qualquer indivíduo. Indagava várias vezes: Que é esse bem? Qual o mais elevado bem, pelo qual se pode medir tudo o mais no mundo? Respondia que é o conhecimento.
Se o indivíduo sabe o que está direito, agirá de acordo, argumentava. “Nenhum homem” – disse – “é voluntariamente mau.” Quando o indivíduo sabe que uma coisa é boa, preferirá fazê-la. Por conseguinte, o mais importante está em esforçar-se por descobrir o que constitui o bem. Sócrates passou a vida procurando auxiliar os homens a descobrir o que representa o bem. Assim, para ele, a vida que esteja inquirindo, e procurando descobrir o que é bom, é a melhor; é a única digna de ser vivida.
Platão tomou o problema do bem e do mal onde Sócrates o deixou. A seu ver, a bondade está ligada à sua teoria sobra a natureza do universo. O mundo dos sentidos, doutrinava ele, é irreal, transitório e mutável. Eis o mal. O verdadeiro mundo das idéias puras e imutáveis é o do bem. O homem só o pode conhecer através da razão. Esta, portanto, é o mais alto bem do homem. O objetivo da vida é libertar a alma do corpo para que ela possa contemplar o verdadeiro mundo das idéias.
Mas o homem pode viver uma vida justa, mesmo sujeitando-se ao corpo e permanecendo no mundo das sombras mutáveis das coisas reais. É o que se pode fazer – acreditava Platão – enquanto a parte racional do homem governar todos os seus atos. Os apetites preocupam-se com as funções e os desejos do corpo. A vontade, ou a parte espiritual do homem, preocupa-se com as ações, a coragem e a bravura. E a razão, com o que há de mais elevado e melhor nele.
O homem vive uma vida justa quando a razão governa a vontade e os apetites e quando, como resultado, é sensato, bravo e moderado.
A vida da razão é, portanto, o mais alto bem para o mundo, uma vida que sobressai pela sabedoria, coragem e autodomínio. Platão ensinava que essa espécie de vida é a feliz. A felicidade e a bondade andam de mãos dadas. Não se deve, porém, procurar o prazer como alvo da vida. O prazer surge quando se atinge uma vida justa, na qual o mais alto bem, a razão, governa e domina o inferior, a vontade e os apetites.
Aristóteles assinalava que toda ação do homem tem um objetivo em vista, sendo este, e outros, os objetivos de uma cadeia infinita. O indivíduo age a fim de obter alguma coisa, mas essa alguma coisa se obtém para obter outra mais, e assim por diante. Que é o mais alto bem – perguntou ele – o bem para o qual se faz tudo o mais? Apresentou uma resposta à questão, acentuando que o alvo de tudo, no mundo, é a realização completa. Cada coisa difere de todas as outras. Tem certo talento, capacidade. Assim, é justa quando concretiza completamente o talento e a capacidade. A concretização completa, portanto, é, para Aristóteles, o mais alto bem, o objetivo de tudo o mais que se faz.
Ora, a característica que distingue o homem é a razão. Nenhum outro ser a possui. Somente o homem tem essa faculdade. Por conseguinte, seu mais elevado bem está na concretização completa da razão. É o que traz a felicidade, acreditava Aristóteles. O prazer acompanha a concretização completa da razão; é o seu resultado natural.
Mas Platão também pregava que a razão é apenas uma parte do homem. Este tem, também, sensações, desejos e apetites. Uma vida justa é, portanto, aquela em que todos esses fatores se concretizam em perfeita harmonia, na qual a razão domina e as sensações e desejos obedecem. O objetivo da vida humana é uma atitude racional para com as sensações e os desejos.
Que é essa atitude racional? Aristóteles doutrinava que ela consiste em um meio-termo. Por exemplo: deve-se julgar a coragem um meio-termo entre a covardia e a imprudência. Homem bom é, portanto, aquele que vive segundo esse meio-termo; que, em seus atos, não vai aos extremos e, sim, estabelece um equilíbrio entre um extremo e outro.
A vida justa, para Aristóteles, é, pois, aquela em que o homem concretiza completamente a parte suprema de sua natureza, a razão. Tal homem será nobre, justo, honesto, atencioso e dará provas de todas as outras virtudes. Agirá assim porque o deseja do íntimo do ser. Não é forçado a agir desse modo por imposição de qualquer autoridade fora dele; sua própria natureza o impele para as boas ações. Escreveu Aristóteles: “A virtude é a disposição, ou hábito, que envolve uma alternativa ou objetivo deliberado, e consiste em um meio relativo a nós mesmos, determinado pela razão ou pela maneira que um homem prudente a determinaria.”
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