27/07/2015
“A Lei Civil e a Lei Moral” – Explanação de Allan Kardec. (Obras Póstumas):
Os males da humanidade vêm da imperfeição dos homens; é pelos seus vícios que prejudicam uns aos outros. Enquanto os homens forem viciosos, serão infelizes, porque a luta dos interesses produzirá incessantemente misérias.
Boas leis contribuem, sem dúvida, para o melhoramento do estado social, mas são impotentes para assegurar a felicidade da humanidade, porque apenas comprimem as más paixões, mas não as aniquilam; são antes repreensivas do que moralizadoras; reprimem atos maus, que se tornam mais salientes, sem lhes destruir as causas. Além disso, a bondade das leis está em relação com a bondade dos homens; enquanto eles estiverem dominados pelo orgulho e egoísmo, farão leis, que aproveitem às ambições pessoais.
A lei civil não modifica senão a superfície; a lei moral é que penetra no foro íntimo da consciência e o reforma.
Sendo, pois, admitido que o atrito causado ao contato dos vícios torna os homens desgraçados, está em seu melhoramento moral o único remédio para seus males. Pois que as imperfeições são a origem dos males, a felicidade aumentará, à medida que diminuírem as imperfeições. Por melhor que seja uma instituição social, se os homens forem maus, hão de falsificá-la e desnaturá-la para que a explorem em seu particular proveito.
Quando os homens forem bons, farão boas instituições que serão duráveis, porque todos têm interesse em sua conservação.
A questão social não tem, pois, seu ponto de partida na forma desta ou daquela instituição; ela está inteira no melhoramento moral dos indivíduos e das massas. Aí está o princípio, a verdadeira chave da felicidade humana, porque os homens não pensarão mais em fazer o mal uns aos outros. Não basta cobrir de verniz a corrupção; é preciso extirpá-la. O princípio do melhoramento está na natureza das crenças, porque estas constituem o móvel das ações e modificam os sentimentos. Também está nas idéias inculcadas desde a infância e que se identificam com o espírito; está ainda nas idéias que o desenvolvimento ulterior da inteligência e da razão podem fortificar, nunca destruir. É pela educação, mais ainda do que pela instrução, que se transformará a humanidade.
O homem, que trabalha seriamente em seu melhoramento, assegura sua felicidade desde esta vida; além da satisfação da sua consciência, está livre das misérias materiais e morais, que são as conseqüências forçadas de suas imperfeições. Terá calma, porque as vicissitudes não o afetarão senão de leve; terá saúde, porque não esgotará o corpo com excessos; será rico, porque o é quem se satisfaz com o necessário; terá a paz da alma, porque não terá necessidades impossíveis; não será atormentado pela sede de honras e do supérfluo pela febre de ambição, da inveja e do ciúme.
Indulgente para com as imperfeições dos outros, menos sofrerá com isto; elas lhe excitarão piedade em vez da cólera. Evitando o que possa ser nocivo ao próximo, quer por palavras, quer por obras, procurando tudo o que pode ser útil e agradável aos outros, ninguém sofrerá com as suas relações; assegura a sua felicidade na vida futura, porque quanto mais se apura aqui, mais se elevará na hierarquia dos seres inteligentes, e bem cedo deixará esta de provas pelos mundos superiores, porque o mal que tiver reparado nesta vida, não reclama outras existências reparadoras e porque, na erraticidade, não encontrará senão amigos e simpatizantes e não será atormentado pela visão constante dos que teriam razão para clamar contra ele.
Vivam os homens animados destes sentimentos e serão tão felizes quanto se pode na Terra; e quando pouco a pouco esses sentimentos ganhem um povo, uma raça, toda a humanidade, o nosso globo passará à ordem dos mundos felizes. Será isto uma quimera, uma utopia? Sim, para quem não crê no progresso da alma; não, para quem acredita na perfectibilidade indefinida.
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